Diz-se, usualmente, que a idade para ser Escoteiro vai dos 6,5 aos 100 anos. É verdade, mas, há que se pontuar algumas coisas que normalmente não são pontuadas ou que, com a leitura da mensagem (Escotismo é para todos) sem estes esclarecimentos em relação ao papel do adulto voluntário, pode ocasionar algumas confusões ou distorções.
O Escotismo para adultos não é diversão. É UMA MISSÃO, embora no cumprimento desta missão possamos nos divertir. Ouço muito, como a justificar bobagens feitas por adultos, que “fulano ama o Escotismo, que “fulano ama ser Escoteiro”. Amar não dá o direito de se comportar como amador. Amor não justifica amadorismo. Ninguém nasce “profissional”, expert em Escotismo,(nem precisa ser) mas a meta de aprender mais a cada dia para fazer Escotismo de verdade tem que ser um compromisso.
Por falar nisso, Escotismo para adultos é compromisso e este compromisso, ao contrário do que se diz, talvez pela carência de voluntários, não é compromisso só para duas horas por semana. É compromisso para várias horas por semana, destinadas a ler, e ler muito e vários livros sobre o próprio Escotismo, como ler também outros temas que contribuam para ser um EDUCADOR, alargar seu horizonte e não se bitolar.Informar-se, programar reuniões progressivas, atraentes e variadas, estar atento a oportunidades que possam auxiliar o seu grupo e o seu trabalho de ESCOTISTA.
O Escotismo bem feito é marcante na vida de um jovem, porém, o adulto que deseja continuar no Escotismo, deve receber orientações para mudar o paradigma, a visão. Deve ser informado de que todas as aventuras que o atraíram no seu tempo de membro juvenil são ferramentas importantíssimas para a boa prática do Escotismo, mas que não são a finalidade do Escotismo e, claro, ser treinado com supervisão para que atinja este entendimento.
O adulto que foi membro juvenil e quer seguir no Escotismo, deve entender que ser Escotista não é dar prosseguimento à sua vida de membro juvenil, não é “galgar mais um degrau” no Escotismo, não é dar continuidade às aventuras cujas lembranças lhe são tão caras. Enfim, o adulto que foi membro juvenil deve entender que ao invés de um “degrau” ele estará se disponibilizando para um serviço que não lhe confere um “posto” numa escala de comando tradicional e muito menos status. Deverá entender que deverá usar aquelas aventuras que tanto lhe fizeram bem como uma excelente base para viver aventuras proporcionando aventuras, mas, sempre lembrando que mesmo estas aventuras são ferramentas usadas na PROPOSTA EDUCACIONAL DO ESCOTISMO.
O adulto que pretenda atuar como voluntário no Escotismo deve ter ciência de que o fato de ser voluntário não lhe dá o direito de fazer o que quiser, na hora que quiser e do jeito que quiser. Há regras muito bem definidas que devem ser seguidas, além do bom senso. O adulto que pretenda ser Escotista deve ser esclarecido de que não há lugar para preguiça, que deverá ler. E ler muito. Que deverá se informar, fazer cursos, participar de encontros e ser permeável a orientações.
Temos carência de voluntários e muitos de nós, que já somos Escotistas, armamos uma arapuca para nós mesmos, e um dia teremos que pagar o preço de que, em face desta carência, achamos que basta a pessoa ser do bem, ser legal, às vezes ser um antigo companheiro, para aceitarmos que atue como Escotista. Há que se lhe informar de todos os itens anteriores, há que se deixar claro que sua eventual participação nas atividades será uma espécie de estágio probatório COMO ADULTO e que num determinado tempo ele poderá ser integrado na chefia regular ou ser convidado a atuar como instrutor ou colaborador para habilidades ou talentos que possua ou, simplesmente que poderá ter seu acesso ao grupo como adulto participante negado.
Os adultos que já são Escotistas devem perder o medo de dizer NÃO. Os adultos que querem ser Escotistas devem ser esclarecidos de que haverá alguns NÃOS.O fato de alguém ter sido um ótimo Escoteiro(a), Sênior ou Guia, Pioneiro(a), e ter até sido Lis de Ouro, Escoteiro da Pátria ou Insígnia de BP não significa que será um ótimo Escotista. Isto sinaliza que provavelmente recebeu Escotismo de qualidade, que o Método Escoteiro foi seguido e que ele se destacou como membro juvenil.
Queremos entregar ao mundo homens e mulheres úteis a si e à comunidade. Este é o nosso objetivo. Queremos que aqueles que foram membros juvenis sejam pessoas de bem e não excelentes acampadores, montanhistas, fazedores de mil nós e nem Chefes Escoteiros. Ser Escotista é uma opção e,ao optar, o CANDIDATO a Escotista deve ser esclarecido dos aspectos anteriores.
Resumindo, o nosso trabalho é voluntário, mas devemos realizá-lo de forma profissional. O Escotismo para adultos não é diversão. É MISSÃO. O Escotismo não é, ou não deveria ser, lugar para amadorismo. Participaremos de aventuras proporcionando aventuras e somos eternos aprendizes que temos que nos preparar sempre para ensinar. Quem não lê pelo menos o básico da literatura escoteira, quem não tem o desejo de se aprofundar nestas leituras, discussões e conhecimentos, quem pensa que sabe tudo e quem só lê sobre Escotismo, está no lugar errado e não pode continuar onde está.
O Escotismo não deve ser a primeira prioridade em nossa vida, mas não pode ser a última. É inconcebível que um adulto voluntário consciente só se preocupe com a programação de sua atividade na véspera ou que não se preocupe. É inconcebível que o adulto voluntário tenha que ser “empurrado” para comparecer ao Grupo. É inconcebível que um adulto voluntário vá ao grupo tendo como principal objetivo rever velhos amigos e é inconcebível que isso não seja dito a estes “voluntários”.
Quando esse conjunto de necessidades não é devidamente observado ou quando não é possível aplicar esses aspectos fundamentais, surgem as opções de afastamento de quem se recusa a cumpri-los. A prática de um Escotismo de mentirinha, capenga ou um arremedo de Escotismo, ocasiona o afastamento, por exaustão ou desencanto, de quem deseja trabalhar com seriedade e foco.
O ESCOTISMO É PARA TODOS, MAS, EM SE TRATANDO DE ADULTOS, NÃO SÃO TODOS QUE SÃO PARA O ESCOTISMO.
ROBERTO NOGUEIRA DA SILVA é escoteiro desde 1967 tendo começado como lobinho, passou seus primeiros 30 anos de escotismo no Rio de Janeiro. Desde 2014 atua no Estado de Minas Gerais e é Insígnia de Madeira do Ramo Escoteiro.
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