Neste dia 4 de novembro de 2023 se celebra os noventa e nove anos de fundação da União dos Escoteiros do Brasil (UEB) iniciando a contagem regressiva para o marco do centenário. A partir de hoje falta exatamente um ano para que se complete seus cem anos.
O cenário em 1923 era de enfraquecimento da ABE (Associação Brasileira de Escotismo). Fundada em 1914 a A.B.E. vinha desde 1917 buscando centralizar em si a prática do escotismo no Brasil por influência de Olavo Bilac que criara a Liga de Defesa Nacional para trazer mais patriotismo ao povo brasileiro. A Liga emprestava à ABE todo seu prestígio e força de propaganda. O próprio Bilac atuou palestrando nas diversas altas rodas da sociedade em favor da criação do escotismo. Cabe salientar que naquele momento, desde 1910, já existiam muitas iniciativas escoteiras em andamento no Brasil, nos diferentes Estados.
Olavo Bilac, um dos grandes difusores do escotismo no Brasil.
Naquela primeira década a A.B.E. foi a grande referência para o movimento escoteiro brasileiro, e também partiu de si o nascimento de diversos grupos e outras associações, federações etc. A Confederação Brasileira dos Escoteiros do Mar, por exemplo, era afiliada à A.B.E. que além das organizações Estaduais estava relacionada com entidades de temas específicos preservando suas autonomias e especificidades. Podemos afirmar que a A.B.E. foi a mais importante associação do início do escotismo apresentando-o às autoridades, à midia e às rodas sociais etc.
Quando da Revolução Paulista em julho de 1924, a liderança da ABE foi esfacelada. Seu Presidente, o Dr. José Carlos de Macedo Soares, foi exilado pelo governo federal em Paris. O Cel. Pedro Dias de Campos assumiu o comando da Força Pública em SP e uns anos antes Mário Cardim já havia se afastado por problemas de ordem profissional. Portanto, deixou de ter o apoio das Associações da Capital Federal (naquela época, o Rio de Janeiro), nomeadamente da Confederação dos Escoteiros do Mar, da Associação Católica de Escotismo e os Escoteiros Fluminenses que resolveram se afastar. Em 7 de setembro de 1923 após o Capitão Tenente Benjamin Sodré ouvir uma palestra do Padre Leovigildo Franca sobre a representação brasileira no Jamboree Mundial convocou todas as associações brasileiras a se reunir para que criassem uma representação única para o Brasil no exterior e junto das instâncias governamentais. À A.B.E. foi a única que não aceitou a convocação e não compareceu.
O Clube Naval, no centro do Rio de Janeiro, há 100 anos.
O Clube Naval, no Rio de Janeiro, passou a receber as reuniões dos representantes das Associações de Escotismo e sediou primeiro – provisoriamente – à UEB. E foi no dia 4 de novembro de 1924, naquele local que foi considerada fundada a União dos Escoteiros do Brasil.
O livro “História do Escotismo Brasileiro – Tomo I”, escrito pelo Almirante Bernard David Blower, um Oficial General da nossa Marinha do Brasil e Conselheiro do CCME, que vinha desde lobinho perpassando pelos primórdios do escotismo brasileiro, cita que a UEB tinha seu mandatário indicado pelo Presidente da República e aceito pelo Conselho Diretor. O primeiro a presidi-la foi o Ministro da Justiça Dr Affonso Penna Jr. Naquele momento à UEB possuía as funções de unir, orientar, desenvolver e representar o escotismo do Brasil, promovendo festas e eventos de carácter geral mas ficando claro que as Federações filiadas conservavam plena autonomia dos seus Estatutos e Regimentos Internos além de que as determinações só podiam ser dadas por unanimidade e aplicadas como “conselho” e “sugestão” em caso de existir voto contrário de uma das Federações.
Em 1940, Getulio Vargas sendo homenageado pela UEB.
Em 1949 houve uma tentativa frustrada de extinguir as Federações e foi em 1950 que a UEB iniciou o formato que conhecemos hoje com a realização da 6ª Assembleia Nacional Escoteira, evento que ocorreu na sede do Centro Paulista, na Praça Tiradentes nº 12 (Rio de Janeiro), dentre os dias 19 a 23 de abril. A ordem do dia daquela assembleia foi a discussão e aprovação dos Regulamentos Técnicos e novos Estatutos que realizaram a fusão administrativa das Federações a ela filiadas, que deixaram de ter autonomia, criando as Regiões Escoteiras, as Modalidades e Departamentos de Assessoria Religiosas Específicas.
E foi a partir deste momento que se a União dos Escoteiros do Brasil iniciou sua consolidação que em breve chegará aos cem anos conduzindo o escotismo brasileiro ao longo de sua história.
ANDRE TORRICELLI, é diretor do CCME, responsável pelo GVEM, ex Conselheiro Nacional, CONAMAR e Coordenador Nacional de Escotismo Católico da UEB. É atual Coordenador Regional dos Escoteiros do Mar do Rio de Janeiro.
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