O Movimento Bandeirante foi criado pelo inglês Robert Baden-Powell, que após estabelecer o escotismo percebeu que as meninas desejavam ter as mesmas atividades e, portanto, pediu a sua irmã Agnes que conduzisse um novo movimento feminino, sendo que tempos depois, sua esposa Olave que assumiu a condução da missão. Após a primeira Guerra Mundial Olave enviou uma carta ao Brasil propondo a organização das “Girls Guides”. No Rio de Janeiro, a Senhora Adele Lynch promoveu uma reunião de mulheres expoentes, entre elas a canadense May Mackenzie, uma já experiente “Girl Guide”, e Jerônima Mesquita que era uma conhecida líder em voluntariado na sua época e que assistiu o nascimento do escotismo na Europa. Em 13 de agosto de 1919 aconteceu a fundação da Associação das ‘Girl Guides’ do Brasil com a Cerimônia de Promessa das 11 primeiras bandeirantes brasileiras na casa da May Mackenzie, na Av. Atlântica em Copacabana. Logo a entidade viria a se chamar ‘Federação das Bandeirantes do Brasil’ com o advento da nacionalização dos nomes das entidades no período do Estado Novo.
1919 – casa da May Mackenzie, na Av. Atlântica em Copacabana,local de realização da 1ª Promessa Bandeirante no dia 13 de agosto.
Inicialmente o movimento foi organizado para prestar apoio educacional não formal às meninas e moças, numa época em que o escotismo realizava o mesmo papel com os rapazes. Nos anos 20, rompendo parâmetros de comportamentos da época, as bandeirantes da FBB começam a realizar passeios e atividades levando as moças para longe de suas vidas cotidianas, para excursionar, acantonar e acampar. Realizou, em 1928, o primeiro Acantonamento para Chefes Bandeirantes, em Itaipava (RJ), atividade que foi um marco, sendo que o primeiro Acampamento ocorreu no mesmo lugar (o antigo Chalé Bandeirante de Itaipava) em 1931. A construção da primeira sede Bandeirante aconteceu no ano de 1927, sob a liderança da Chefe Maria de Lourdes Rocha Lima, fundadora da Companhia do Sagrado Coração de Jesus, na Paróquia do bairro da Glória. Em agosto de 1929 é institucionalizada a comemoração da Semana Bandeirante e em 1933 acontece o primeiro Acampamento Nacional, no Alto da Boa Vista. Em 1930 a FBB torna-se membro oficial da Associação Mundial de Bandeirantes, a “WAGS”, criada em 1928, participa da 1ª Conferencia Mundial Bandeirante na Suécia, e a partir da década de 40 iniciam viagens pelo país integrando as Bandeirantes em nível nacional, viagens impensáveis para grupos só de meninas.
Embora muitas pessoas participem de uma grande instituição ao longo de cem anos, algumas sempre merecerão mais destaque. Entre elas, uma que é lembrada constantemente, conforme os relatos da memória afetiva dos bandeirantes, é LOURDES ROCHA LIMA.
Em 1943, Vera Delgado entrega ao Presidente Getúlio Vargas o pedido oficial para a doação do terreno para a construção da Sede Nacional da FBB, tendo a pedra fundamental lançada em 1947. Após 15 anos de mobilização da ‘Campanha dos Tijolos’, liderada por Maria José Austragésio de Athayde, Maria Luiza de Vasconcellos e Rosita Sampaio Bahiana, em 19 de março de 1959, é inaugurada a Sede Nacional da FBB com a Presença do Presidente Juscelino Kubitschek, possibilitando um porto seguro para a FBB. Em 1957 a FBB sedia a Conferência Mundial Bandeirante no Hotel Quitandinha, em Petrópolis (RJ). Nas Comemorações pelo Cinquentenário (1959) as bandeirantes realizaram um belíssimo Acampamento Internacional em Brasília, enterraram a Capsula do Tempo – cilindro doado pela Marinha do Brasil com documentos, mensagens e informações sobre as Bandeirantes da época com vistas a abertura no Centenário – e recebem a visita de Lady Olave Baden-Powell nas cidades de Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre e, a Capela Santa Joana D’Arc é premiada pelo Instituto de Arquitetura do Brasil.
1959 – A famosa Capsula do tempo foi cerrada em uma pedra, com uniformes, fotos, mensagens e diversos itens que por cinquenta anos geraram uma deliciosa curiosidade sobre o futuro das bandeirantes brasileiras.
Quando a Atuação Social ainda não era uma pauta tão explorada pela mídia e as politizações como ocorre na atualidade, as bandeirantes já agiam com ênfase no bem comum. Em 1937 foi organizado um Núcleo de Bandeirantes no Instituto Benjamin Constant, atendendo meninas com deficiência visual, e em 1939, as Bandeirantes do nordeste prestaram diversos serviços de apoio aos náufragos dos navios torpedeados na costa brasileira pela Alemanha Nazista, em especial a montagem de hospitais de campanha e apoio com a enfermagem. Já durante a Segunda Guerra, ajudaram os estrangeiros a encontrar suas famílias no Brasil. Na década de 60, período de grandes transformações sociais no mundo as Bandeirantes chegaram a um efetivo de 20.000 membros e tomam a frente em realizar atividades mistas, convidando meninos, estimulando a vivencia entre os meninos e as meninas, sendo que em 1969 vão a frente iniciando o aceite de participação dos rapazes, o que aconteceu com maior expressão a partir do final dos anos 90 a partir da mudança de Estatutos em 2004. Especialmente nas últimas quatro décadas o Movimento Bandeirante empenhou-se muito nas atuações em causas sociais com campanhas junto às comunidades como a realização de diversos projetos de prevenção ao HIV, ao enfrentamento da Tuberculose, Saúde e Nutrição além das atividades educacionais junto ao Meio Ambiente.
Recentemente a FBB foi reconhecida pelas suas atuações sociais com os Premios Olave Baden-Powell, Bem Eficiente 2000, 10 Melhores Equipes de Voluntários de 2000, FAO/WAGGGS de Alimentação e Nutrição, Jovens Voluntários, Troféu Direitos Humanos e Moção de Congratulações e Aplausos da ALERJ. Atua, hoje, em parcerias internacionais como Dove Mundial, Symantec, Metlife Foundation e Girl Scouts of the USA, ONU e UNIFEC chegando a um contingente atualizado de quase 4.000 Bandeirantes ativos no Brasil, sendo destes, três quartos de crianças e adolescentes. É importante recordar a atuação da FBB na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013, quando desempenharam um relevante trabalho para a população.
2019 – Assembleia Regional da FBB, Rio de Janeiro, que recebeu extraordinariamente a visita do autor deste artigo, representando o Centro Cultural do Movimento Escoteiro.
No ano de 2019 a FBB comemorou seu centenário com a realização de diversas atividades, internas e também abertas para o público. Após receber a Medalha Pedro Ernesto da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, aconteceu o Acampamento do Centenário, reunindo cerca de 300 jovens e adultos de todo o Brasil. O acampamento que ocorreu no 21ºGrupo de Artilharia em Campanha, do Exército Brasileiro, no bairro de Jurujuba, em Niterói, um local paradisíaco, e contou com atividades por todo o Rio de Janeiro.
A tão esperada abertura da Capsula do Tempo ocorreu no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no aterro do flamengo, logo após a capsula ser retirada do interior da pedra em que fica na frente da sede das bandeirantes. O evento contou com centenas de pessoas, entre elas políticos, antigas bandeirantes, representantes de outras entidades e da Marinha do Brasil que doou a capsula cinquenta anos atrás. Também compareceram pessoas que estiveram presentes quando foi lacrada e guardada a capsula. O centenário foi encerrado com chave de ouro, como se diz.
autor:
ANDRE TORRICELLI F. DA ROSA é bacharel em direito, pós graduado em direito do Consumidor pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e atualmente cursa MBA em Turismo pela UFF no Rio de Janeiro. Foi Conselheiro Nacional, Membro da Comissão Nacional de Ética e Disciplina, Coordenador Nacional dos Escoteiros do Mar, Coordenador Nacional Católico da União dos Escoteiros do Brasil e do Cone Sul pela CICE-América, além de ter sido Presidente do Centro Cultural do Movimento Escoteiro. Em 2019 foi distinguido pela Federação de Bandeirantes do Brasil com a “Ordem do Trevo”, durante as comemorações do centenário da FBB.
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